A medida certa por Joel Neto in DN 2014-01-08
"Não vale a pena particularizar. Eusébio foi enorme, deve permanecer enorme na
nossa memória e a vozearia que se verificou em torno da sua morte dificulta essa
eternização. Contribuíram para ela os jornais e as rádios, contribuiu com
certeza para ela a internet (em especial as inefáveis redes sociais), mas
contribuiu em grande parte para ela a televisão também.
Cobrir a morte e o funeral do "Pantera Negra" era um trabalho difícil, que
exigia uma capacidade de improvisação enorme e um cuidado estilístico espontâneo
maior ainda. Mas os trabalhos difíceis não são isentos de escrutínio.
Há um nível ótimo de cobertura jornalística para cada evento. Esse nível
ótimo é sempre difícil de encontrar e é o jornalismo ele próprio. Neste caso,
como noutros, foi simplesmente pulverizado.
Portanto, nisto estou em radical desacordo com o meu colega Nuno Azinheira.
Ouvir os mesmos depoimentos centenas de vezes (é de centenas de vezes que
estamos a falar), assistir ad nauseam ao aproveitamento político que do
acontecimento fizeram representantes dos mais diversos partidos, acompanhar as
câmaras em olhares voyeuristas sobre a urna e os rostos em volta, ver cidadãos
de todas as origens reclamando-se coprotagonistas da história, porque um dia
encontraram Eusébio num café ou se fizeram fotografar ao seu lado no Estádio da
Luz ou o viram marcar um golo - nada disso foi nobilitante, nem para o
equilíbrio, a ponderação e o recato que se deve exigir à reportagem, nem
seguramente para a própria memória de Eusébio.
Era tentador, era previsível - e, aliás, vir agora dizê-lo também o era. Mas,
por outro lado, não pode deixar de ser dito, como tudo o que é importante."
2 kommentarer:
Hoje, um dia muito triste, que estive no estádio a despedir-me de alguém que me ajudou –não só a mim! – a que os dias cinzentos, provocados pelo obscurantismo de uma ditadura, fossem um pouco diferentes, chego aqui, e olho o velho Estádio da Luz.
Já não sabia onde andava esta memória que agora me fez voltar à tarde em que fui com o meu avô assistir à primeira cavadela, no exacto lugar de onde surgiria este monumento de pedra ainda só com dois anéis, dos almoços para angariar fundos, em que se leiloava tudo e mais alguma coisa e nunca esquecerei o leiloar de
uma gaiola com dois canários.
Tempos em que os dias nasciam e findavam de uma outra maneira.
Os meus domingos de golo no estádio.
Mas cada vez que as redes dos estádios abanavam com os golos do Eusébio, os melhores de todos nós estavam no seu posto. E dos que estavam no estádio a verem o gritar de golo, muitos sabiam que isso não os fazia esquecer as perseguições e as torturas da PIDE, uma guerra inútil em África, napalm a ser despejado, pelos aviões americanos, nos campos do Vietnam.
Obrigado pela memória.
Alguns Domingos que ficaram para sempre, algumas noites em que mais valia ir a pé de Sete-Rios. Em 40 anos de exílio poucos encontei que não conhecessem o nome do meu "bairro"....e isso conta muito.
Abr.
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