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08 november 2023

In the land of never ending corruption....

Today, Portuguese PM António Costa resigned after corruption allegations against members of his cabinet. In Portugal, corruption is still the country's number one internal carcinoma. Next year we will celebrate 50 years of democracy....and centuries of corruption 😡

...."Certo é que Portugal é mesmo uma Cunhalândia, o país da cunha, a terra dos pequenos e médios favores que nutrem teias de poder subterrâneo e paralelo (mas às vezes superior) aos poderes eleitos e às instituições. A cunha, o factor "C" é mesmo uma cultura nacional. Todos "dão um jeito", um jeitinho, um desenrasca. É "mexer os cordelinhos". É a nação das influências, a identidade das informalidades e habilidades, troca de favores, amiguismo, clientelismo, nepotismo. Ismos pútridos que medram nos lobbies partidários, noutros grupos de interesse organizados ou de privilegiados que se julgam investidos de direitos consuetudinários e vivem nos mundinhos onde tudo isso é desculpável e irrecusável. Numa das suas Farpas, Eça lançava:"Querido leitor: Nunca penses servir o teu país com a tua inteligência, e para isso em estudar, em trabalhar, em pensar! Não estudes, corrompe! Não sejas digno, sê hábil! E, sobretudo, nunca faças um concurso; ou quando o fizeres, em lugar de pôr no papel que está diante de ti o resultado de um ano de trabalho, de estudo, escreve simplesmente: sou influente no círculo tal e não me façam repetir duas vezes!" Talento, mérito, dom, esforço, regra, ordem, protocolo, tudo isso é luso-relativo. Variável, contextualizável. Depende."

Joana Amaral Dias in Diário de Notícias, November 5, 2023

Difficult translation....but more or less, "corruption as perpetuated national heritage"

13 september 2022

"Conto de fadas"....


A guerra acabou com a covid e a rainha acabou com a guerra. Melhor que a sua longevidade só mesmo esta jogada de mestre post mortem. Bem que agora, até ao London Bridge, podia acabar com a subida das taxas de juro. Memes parte: o mundo em colapso pára e suspende-se para se transformar numa colossal revista cor de rosa que engole tudo à sua passagem, reduzindo a saúde pública, a inflação, Putin e Zelensky ou Taiwan a infidelidades conjugais, traições, invejas, dúvidas de paternidade e condutas sexuais duvidosas. Entre o big brother e a hagiografia, silêncio e esquecimento sobre as Malvinas, os irlandeses, os mineiros, Quénia, Nigéria, Vietname, Afeganistão, Iraque, Líbia ou Síria, nem gota ou sombra de espírito crítico pelos órgãos de comunicação social que tingem de purpurinas tudo o que diga respeito a sua majestade. 24/7 e a durar até dia 20 de setembro, ressaca incluída.

Comparar a estatura política da rainha (poder simbólico inclusive) à de qualquer outro líder do século XX (Gorbatchev, nomeadamente ) é equipar um liliputiano a um jogador da NBA. Derramar tanta narrativa aldrabada e mentirosa sobre a vida de Isabel ll e sobre a monarquia britânica; vestir luto para apresentar estas notícias (como fizeram tantos jornalistas); declarar "A felicidade do Reino Unido será a felicidade de Portugal" como fez o Presidente da República é o cúmulo da labreguice. Portugal é recordista do lambebotismo - e salta de santificação em santificação como de nenúfar em nenúfar, sem qualquer réstia de massa cinzenta - ainda estavam a deificar a ex-ministra da Saúde e pumba: nova virgem. Mas o balir não é apenas nacional. Vários órgãos de comunicação social (inclusive alguns respeitáveis) noticiaram uma nuvem com a forma do rosto da rainha. Outros - a Bloomberg, por exemplo - anunciaram como sinal profético o duplo arco-íris que terá surgido sobre Buckingham Palace, que representaria a sua união etérea com o defunto marido. Enfim, isto são as mesmas pessoas que andam desde 2020 a pedir que acreditemos na ciência, a proclamar que temos que seguir a ciência. Agora viraram-se para as coisas esotéricas e místicas, além de para o culto de personalidade semelhante ao de Kim Jong-un - embora aí, já o censurem com veemência. Ui, que coerência. Por falar nisso - como se não bastasse, ainda repetem até a eternidade e mais um dia, em uníssono, que a monarquia em geral e esta reinante em particular, foram garante de identidade e continuidade. Estabilidade. Já da consanguinidade, da endogamia, da cultura do domínio, nem pio... o que só seria ou será compreensível por parte de quem é apoiante da causa... e mesmo assim. Afinal, Isabel II fez sobretudo a defesa do privilégio, da superioridade classista. Aliás, se a falecida tivesse mesmo lutado por um mundo mais justo e mais livre, será que gostaria agora deste acéfalo cortejo fúnebre? Era assim que a homenageariam?! John Locke deve estar às voltas no túmulo com Diana. Pelos menos, os meninos e as meninas das pareidolias e visões devem crer nisso. God save the queen, The fascist regime, They made you a moron. A potential H bomb. cantavam os Sex Pistols, rematando No Future. Haja quem.

By Joana Amaral Dias in Diário den Notícias, September 11, 2022